Ratos que vêem a cores feitos no laboratório

A Ciência está sempre a inovar e estas coisas impressionam-me. Aqui está mais uma aventura com ratinhos à mistura escrita por Filomena Naves, no Diário de Notícias.

Um pouco de engenharia no laboratório, um gene a mais onde ele antes não existia e, pela primeira vez, o mundo surgiu a cores, aos olhos... de um ratinho. Para lá da gracinha, há uma informação preciosa no resultado da experiência, relatada hoje na revista Science.

Os ratos, apesar de limitados pela natureza a um equipamento de visão que pouco mais distingue além dos cinzentos, têm afinal um cérebro capaz de processar cores.A esmagadora maioria dos mamíferos vive num mundo pouco colorido, feito de cinzentos, com um pouco de azul e umas pinceladas de castanhos e verdes esbatidos. Só os primatas, seres humanos e macacos incluídos, têm retinas com sensores que lhes permitem distinguir todas as cores do arco-íris. Este melhoramento visual deverá ter ocorrido na evolução há cerca de 40 milhões de anos, nos avoengos dos primatas de então, espalhando-se rapidamente entre eles, uma vez que favorecia a sua sobrevivência, defendem os investigadores das universidades de John Hopkins e da Califórnia (EUA), liderados por Nick Zagorski, no seu artigo na Science.

Ao introduzirem no ADN de alguns ratinhos o gene necessário ao seu melhoramento visual, os cientistas queriam sobretudo testar a capacidade de o seu cérebro processar essa informação. O resultado positivo não deixa margem para dúvidas: a plasticidade cerebral dos mamíferos a este nível é, afinal, maior do que supunha. Os ratinhos não necessitaram de mais nenhuma geração para usar convenientemente o seu novo mecanismo visual. Mas como perceberam os cientistas que os ratinhos viam a cores? É simples: desenharam uma experiências com lâmpadas de cores diferentes que os ratos tinham que accionar diferenciadamente se quisessem uma recompensa em comida. E os ratinhos não falharam.