terça-feira, 19 de junho de 2007

entre nós e as palavras

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor


E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

.
Mario Cesariny

1 comentário:

Alma Sentida disse...

Mexi neste poema vezes sem conta hoje. Gosto tanto! E precisava tanto dele. Optei por outro. Diferente. Mas que me diz muito também. As tuas escolhas são sempre boas.